Neoliberalismo e investigação científica : Estudo exploratório num centro de psicologia português
Universidade do Porto. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal
email: araujohugo68@gmail.com
Universidade do Porto. Professor Auxiliar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal.
email: carlosg@fpce.up.pt
Este estudo qualitativo exploratório debruça-se sobre a relação entre o paradigma neoliberal – materializado nas novas políticas de gestão (NPM) das universidades – e o fenómeno da psicologização e pretende alertar a comunidade científica e leiga para a crescente instrumentalização da Psicologia e mercantilização do conhecimento, particularmente no seio investigação científica. Com efeito, explorou-se a dinâmica de funcionamento de um centro de investigação em psicologia português através da análise de conteúdo temática da informação resultante das entrevistas semiestruturadas realizadas a doze investigadores deste centro. Desta análise foi possível obter um vislumbre do modo como a ideologia neoliberal se imiscui na investigação científica, exaltando a tecnocracia e a eficácia como critérios, promovendo os discursos psicologizadores que, por sua vez, ocupam cada vez mais a arena pública. A exploração pioneira destes fenómenos num contexto português permitiu perceber que, embora exista uma aposta clara na diversidade de investigação, tanto teórica como metodológica, há uma predileção pelos modelos psicológicos com diretrizes anglo-americanas.
Álvarez-Uría, F., Varela, J, Gordo, Á., & Parra, P. (2010). Psychologising life and thought styles. Annual Review of Critical Psychology, 8, 11-27.
Austin, S. & Prilleltensky, I. (2001). Diverse origins, common aims: the challenge of critical psychology. Radical Psychology, 2(2). Disponível em: http://radpsynet.org/journal/vol2-2/austin-prilleltensky.html.
Bardin, L. (1977). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70.
Benoist, A. (2019). Liberalismo, despolitização e liberdade. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 67-73). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Bento, A. (2019). Smash the State, Mr. Foucault? Liberalismo e neoliberalismo em Michel Foucault. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 195-250). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Bento, A., & Santos, J. M. (Eds). (2019). Neoliberalismo, Liberdade, Governo. Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Billig, M. (2013). Academic Words and Academic Capitalism. Athenea Digital (Revista De Pensamiento E Investigación Social), 13(1), 7-12. doi: 10.5565/rev/athenead/v13n1.1108.
Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research In Psychology, 3(2), 77-101. doi: 10.1191/1478088706qp063oa.
Cabanas, E., & Illouiz, E. (2019). A Ditadura da Felicidade – Como a Ciência da Felicidade Controla as Nossas Vidas. Lisboa: Temas e Debates – Círculo de Leitores.
Campos, A., & Soeiro J. (2016). A Falácia do Empreendedorismo. Lisboa: Bertrand Editora.
Centro de Psicologia da Universidade do Porto (2019). About us. Disponível em: https://sigarra.up.pt/fpceup/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=CPUP_ABOUTUS
Coimbra, J., & Menezes, I. (2009). Society of individuals or community strength: community psychology at risk in at-risk societies. Journal of Critical Psychology, Counselling and Psychotherapy, 9(2), 87-97.
Correia, J. C. (2019). A revolução neoliberal e o impacto na ciência e na comunicação: breves notas para debate. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 133-151). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Dalal, F. (2018). CBT: The cognitive behavioural tsunami: managerialism, politics and the corruptions of science. New York: Routledge.
De Vos, J. (2008). From Panopticon to Pan-psychologization. International Journal of Žižek Studies, 2(1). Disponível em: http://www.zizekstudies.org/index.php/IJZS/article/view/43/40.
De Vos, J. (2012). Psichologization in times of globalization. New York: Routledge.
De Vos, J. (2013). Psychologization and the subject of late modernity. New York: Palgrave. doi: 10.1057/9781137269225.
Dias, S. (2018). Žižek, Marx & Beckett e a democracia por vir. Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Fassin, D. (2008). The Humanitarian Politics of Testimony: Subjectification through Trauma in the Israeli: Palestinian Conflict. Cultural Anthropology, 23(3), 531-558.
Feijó, A. M., & Tamen M. (2017). A Universidade como deve ser. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Fernandes, L. (2017). A produção do saber psicológico na sociedade do conhecimento: breve reflexão sobre liberdades e constrangimentos. In L. Fernandes (Ed.) Conhecimento de si na sociedade do conhecimento: cinco textos inquietos. (pp. 19-52). Porto: Apuro Edições.
Flick, U. (1998). An introduction to qualitative research. London: Sage Publications.
Fox, D., Prilleltensky, I., & Austin, S. (Eds.). (2009). Critical psychology: An introduction (2nd ed.). London: SAGE.
Giovanni Moreno, F., & Claudia Peralta, M. (2018). “Caminos no para llegar sino para seguir andando”: una investigación poscualitativa sobre la psicología crítica en el capitalismo cognitivo. Pensando Psicología, 14(23), 1–12. https://doi.org/10.16925/pe.v14i23.2264.
Gonçalves, C., & Coimbra, J. (2018). Orientar nas sociedades líquidas e da incerteza: um desafio para a investigação e intervenção em orientação vocacional. In Margarita Valcarce Fernández, & Antonio Florencio Rial Sánchez (Eds), Vulnerabilidade, formación para o traballo, orientación e comunidade na eurorrexión Galicia-Norte de Portugal (pp. 37-60). Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela.
González-Calvo, G., & Arias-Carballal, M. (2017). Effects from audit culture and neoliberalism on university teaching: an autoethnographic perspective. Ethnography and Education, 13(4), 413-427. doi: 10.1080/17457823.2017.1347885.
Gordo, Á., & De Vos J. (2010) ̳Psychologism, Psychologising and De-Psychologisation. Annual Review of Critical Psychology, 8, 3-7.
Han, B. (2015). Psicopolítica - Neoliberalismo e novas técnicas de poder. Lisboa: Relógio D´Água Editores.
(Obra originalmente publicada em 2014).
Han, B. (2018). A Expulsão do Outro – Sociedade, Perceção e Comunicação Hoje. Lisboa: Relógio D’Água Editores. (Obra originalmente publicada em 2016).
Harvey, D. (2007). A Brief History of Neoliberalism. Oxford: Oxford University Press.
Harvey, L. (2004). The power of accreditation: views of academics. Journal of Higher Education Policy and Management, 26(2), 207-223. doi: 10.1080/1360080042000218267.
Holzman, L. (2013). Critical Psychology, Philosophy, and Social Therapy. Human Studies, 36(4), 471–489. doi: 10.1007/s10746-013-9293-x.
Ibanez, T. (1997). Why a critical social psychology? In T. Ibanez and L. Iniguez (Eds.). Critical social psychology (pp. 27-41). Thousand Oaks, CA: SagePublications.
Jappe, A. (2019). A Sociedade Autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição. Lisboa: Antígona.
Jones, D. S. (2012). Masters of the Universe: Hayek, Friedman, and the Birth of Neoliberal Politics. Princeton: Princeton University Press.
Lapa, T. (2006). Quadros e trabalhadores no capitalismo flexível: uma abordagem cultural e socio-cognitiva. CIES e-Working Paper, 15, 1-33.
Lipovetsky, G. (2017). A Era do Vazio: Ensaios sobre o Individualismo Contemporâneo. Lisboa: Edições 70. (Obra originalmente publicada em 1983).
Lock, G., & Lorenz, C. (2007). Revisiting the university front. Studies in Philosophy & Education, 26(5), 405–418. doi:10.1007/s11217-007-9052-4.
Lorenz, C. (2012). If You’re So Smart, Why Are You under Surveillance? Universities, Neoliberalism, and New Public Management. Critical Inquiry, 38(3), 599–629.
Madsen, O. J., & Brinkmann, S. (2010). The Disappearance of psychologization?. Annual Review of Critical Psychology, 8, 179-199.
McLaughlin, K. (2010). Psychologisation and the Construction of the political subject as vulnerable object. Annual Review of Critical Psychology, 8, 63-79.
Monbiot, G. (2018, Setembro 13). Scientific publishing is a rip-off. We fund the research – it should be free. The Guardian. Disponível em: https://www.theguardian.com.
Monbiot, G. (2016, Abril 15). Neoliberalism - the ideology at the root of all our problems. The Guardian. Disponível em: https://www.theguardian.com.
Martínez, M. M., & Tarrès J. P. (2013). La fábrica de conocimientos: in/corporación del capitalismo cognitivo en el contexto universitario. Athenea Digital (Revista De Pensamiento E Investigación Social), 13(1), 139-154. doi: 10.5565/rev/athenead/v13n1.1031.
Nogueira, C., Saavedra, L., & Neves, S. (2006) Critical (Feminist) Psychology in Portugal. Will it be possible?. Annual Review of Critical Psychology, 5, 136-147.
Oliveira, J. M., Saavedra, L., Neves, S., & Nogueira, C. (2013). Critical Feminist Psychology from the Semi-peripheral Southwest of Europe: The Intriguing Case of Portugal. Annual Review of Critical Psychology, 10, 801-816.
Orwell, G. (2007). 1984 (3rd ed.). Lisboa: Antígona. (Obra originalmente publicada em 1949).
Parker, I. (1999). Critical psychology: critical links, Annual Review of Critical Psychology, 1, 3-18.
Parker, I. (2007). Critical psychology: What it is and what it is not. Social and Personality Psychology Compass, 1(1), 1–15. doi: 10.1111/j.1751-9004.2007.00008.x.
Parker, I. (2007). Revolution in Psychology: Alienation to Emancipation. London: Pluto Press.
Parker, I. (2009). Critical psychology and revolutionary Marxism. Theory & Psychology, 19(1), 71-92. doi: 10.1177/0959354308101420.
Parker, I. (2014). Managing Neoliberalism and the Strong State in Higher Education: Psychology Today. Qualitative Research In Psychology, 11(3), 250-264. doi: 10.1080/14780887.2013.872214.
Parker, I. (2015). Handbook of Critical Psychology. London: Routledge.
Picavet, E. (2019). A legitimação da autoridade e o impacto do liberalismo político-económico. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 95-103). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Prilleltensky, I. (1994). The morals and politics of psychology; Psychological discourse and the status quo. New York: State University of New York Press.
Prilleltensky, I. (2008). The role of power in wellness, oppression, and liberation: the promise of psychopolitical validity. Journal Of Community Psychology, 36(2), 116-136. doi: 10.1002/jcop.20225.
Queiroz, R. (2017, Agosto 28). Regina Queiroz sobre Neoliberalismo e Populismos [ficheiro em video]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=z8A6Z379Elc.
Rhoades, G., & Slaughter, S. (2004). Academic Capitalism in the New Economy: Challenges and Choices. American Academic, 1(1), 37-59.
Richard, G. (1996). Putting psychology in its place: an introduction from a critical historical perspective. London: Routledge.
Rodrigues, J. (2019). Ordem espontânea ou engenharia política em grande escala? F. Hayek e a incrustação federal do neoliberalismo.
In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 105-132). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Sá, A. F. (2019). Criptopolítica e populismo, fase superior do neoliberalismo?. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 171-182). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Samões, O. (2019). Neoliberalismo: Liberdade e Coordenação Social. In A. Bento & J. M. Santos (Eds), Neoliberalismo, Liberdade, Governo (pp. 75-94). Lisboa: Sistema Solar, CRL (Documenta).
Shore, C. (2010). Beyond the multiversity: neoliberalism and the rise of the schizophrenic university. Social Anthropology/Anthropologie Sociale, 18(1), 15-29. doi: 10.1111/j.1469-8676.2009.00094.x.
Silva, M. C. (2013). Crise, democracia e desenvolvimento: o lugar semiperiférico de Portugal. RES, 19, 153-168.
Sloan, T. (2000). (Ed.). Critical psychology: Voices for change. New York: St. Martin’s Press.
Smith, B., and D. Brown. (2011). “Editorial.” Qualitative Research in Sport, Exercise and Health 3 (3), 263–265.
Spence, J. T. (1985). Achievement American style: the rewards and costs of individualism. American Psychologist, 40, 1285–1295. doi: 10.1037/0003-066X.40.12.1285.
Steinitz, V., & Mishler, E. G. (2009). Critical psychology and the politics of resistance. In D. Fox, I. Prilleltensky, & S. Austin (Eds.), Critical psychology: An introduction (2nd ed.) (pp. 390-409). London: Sage.
Stiegler, B. (2018). Da Miséria Simbólica - I- A Era Hiperindustrial. Orfeu Negro. (Obra originalmente publicada em 2004).
Tavares, R. (2015). Esquerda e Direita: Guia histórico para o século XXI. Lisboa: Edições Tinta-da-China, Lda.
Taylor, A. (2017). Perspectives on the University as a Business: the Corporate Management Structure, Neoliberalism and Higher Education. Journal for Critical Education Policy Studies (JCEPS), 15(1), 108–135.
Teo, T. (2015). Theoretical psychology: A critical-philosophical outline of core issues. In I. Parker (Ed.). Handbook of Critical Psychology (Cap. 12, pp. 117-126). London: Routledge.
Teo, T. (2015). Critical Psychology: A Geography of Intellectual Engagement and Resistance. American Psychologist, 70(3), 243-254. doi: 10.1037/a0038727.
Torgal, L. R. (2015). A Universidade em Portugal em período de transição para a democracia e para o neoliberalismo. Espacio, Tiempo y Educación, 2(2), 155–171. doi: 10.14516/ete.2015.002.002.008.
Verhaeghe, P. (2014). What about Me?: the struggle for identity in a market-based society. Australia: Scribe Publications.
Copyright (c) 2020 Pensando Psicología

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
O autor deve declarar que seu trabalho é original e inédito e que não foi enviado à avaliação simultânea para sua publicação por outro meio. Além disso, deve garantir que não tem impedimentos de nenhuma natureza para a concessão dos direitos previstos no contrato.
O autor se compromete a esperar o parecer da revista Pensando Psicología antes de considerar sua apresentação a outro meio; caso a resposta de publicação seja positiva, compromete-se em responder por qualquer ação de reivindicação, plágio ou outro tipo de reclamação que possa ocorrer por parte de terceiros.
Ainda, deve declarar que, como autor ou coautor, está completamente de acordo com os conteúdos apresentados no trabalho e ceder todos os direitos patrimoniais, isto é, sua reprodução, comunicação pública, distribuição, divulgação, transformação e demais formas de utilização da obra por qualquer meio ou procedimento, pelo termo de sua proteção legal e em todos os países do mundo, ao Fundo Editorial da Universidad Cooperativa de Colombia, de maneira gratuita e sem compensação monetária.